Carrego-te no negrume da escuridão
Lado oculto da vida em que te não via
Seguro o grito no silêncio, em vão
Rogo por esta luz pálida que nos guia
Que lassidão é esta que me corrói
A alma ímpia, descrente
Que me condena a vilão ou herói
Ou apenas a um ser aparentado a gente
Lanço um olhar duvidoso à paisagem nua
Que é esboço não desenhado
É rabisco sobre uma tela crua
És tu, meu amor, do outro lado
Chamas-me e não te ouço
Convocas-me e não compareço
Permaneço neste calabouço
Indeciso, e ainda assim não esmoreço
E neste impasse me quedo
Impedido de desfrutar esta vida
Solto vocábulos que pretendem ser um berro
Rasgo as vestes pela alma cindida
Resisto e não desisto, até à última consequência
Por um amor incessantemente incompreendido
Que perdura e resiste com eloquência
Epílogo da querença que se faz correspondido
Rui Ferreira
Penafiel
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